20/11/2010

Raven & Steve Grimmett Brazil tour 2010


Fazia um bom tempo que larguei os trabalhos em shows. Tanto que num recente convite, recusei a possibilidade de ser drum tech das bandas Raven e Steve Grimmett. Pra quem não sabe: Raven é uma legendária banda inglesa formada nos anos 70, que se consagrou após o surgimento do heavy metal nos anos 80 na NWOBHM. E Steve Grimmett foi vocalista de bandas como Grim Reaper e Lionheart. Steve é outro ícone da época.
Já fiz bateria algumas vezes e sempre achei “chato” e cansativo. E levando em conta que eram duas bandas com intervalo de meia hora, compartilhando o mesmo drum kit – imaginei como seria a trabalheira e a correria! Não aceitei e indiquei meu amigo Saulo, que assumiu a incumbência – seria o segundo show internacional dele (a primeira foi comigo com o baixista Magnus Rósen – ex Hammerfall).
O convite me foi feito por uma ex-aluna da escola, a Sylvia D´Antonio, que seria a Guitar Tech dessas bandas...
Bom, tudo acertado. Apenas me preocupei em toques e sugestões para o Saulo. Afinal, ele é Guitar Tech, mas também entende de bateria. Tudo certo, tudo acertado entre as partes, fiquei sossegado...
O show seria num sábado (dia 13/11/2010, no Carioca Club). Noite de sexta, me despedi do Saulo desejando “boa sorte” e apesar de ter prometido aparecer no show, acabei desistindo de ir por conta de assuntos pessoais.
No sábado de manhã, fui trabalhar mais cedo e logo quando liguei meu celular, duas mensagens de texto já indicavam um contratempo com relação a parte técnica do show. Liguei para o produtor Fernando Goulart da AWO...e fico sabendo que a Sylvia....isso...originalmente a Guitar Tech das referidas bandas, não conseguiu as passagens para vir trabalhar no show....!!!
Alguns telefonemas e assuntos pessoais resolvidos, atendi ao pedido dos produtores e aceitei trabalhar no show....mas como Guitar Tech e Stage Manager. Ainda fiquei na escola durante a manhã, passei em casa para me trocar e pegar a maleta de ferramentas, que está sempre pronta para qualquer emergência.
Bom, a idéia era levar mais uma pessoa para nos ajudar. Chamei a Pauleira, mas ela já tinha um compromisso inadiável. A Pauleira seria legal porque sabe montar bateria, é luthier de cordas, fala inglês e não tem tempo ruim para ela...Mas não deu...Então tinha que decidir: entre chamar alguém sem experiência e trabalhar apenas em dois – decidi na dupla eu & Saulo.
Durante a montagem do palco, uma galera nos ajudou: guitarrista Guto e o pessoal da sonorização.
Eu já dei um curso de roadie e técnicos de palco durante 2 anos. E o lema é esse: saber lidar com o imprevisto e resolver os problemas. O fato em si, era um imprevisto e um problema. Pois é, eu de volta aos palcos e backstage(s) novamente!
Steve Grimmett e eu!

O Raven veio primeiro passar o som. Os caras são simpáticos e humildes. É um prazer conhecer gente assim. Mark e John me abraçaram quando disse a eles que eram venerados no Japão. O batera Joe Hasselvander & Saulo começaram os ajustes da bateria. Saulo apesar de não falar inglês, se virou bem com o gestual. Montamos o set up dos caras e eu já estava na minha improvisada mesa regulando a altura de cordas da guitarra do Mark e já previa que seria um show “daqueles”.
Mark trouxe 2 guitarras detonadas, uma pedaleira Zoom (para wah e delay apenas), um A/B box, uma potência Rocktron, pré Triaxis Mesa Boogie e afinador de rack da Behringher. Ele trouxe seus próprios "podres"cabos.
Mark usou duas caixas Marshall das quatro disponíveis.
John Gallagher trouxe 2 instrumentos ( o legendário baixo Explorer vermelho e um baixo de 8 cordas). John usa um microfone para vocal do tipo headset e sistema sem fio também nos baixos. Ele usou o cabeçote SVT Ampeg com caixa 4 x 10. Ele trouxe uma pedaleira Boss GT3 (delays e compressores) no input do amp e um rack PSA1 da SansAmp no loop do cabeçote. O sinal do baixo é dividido em 2 vias: um para o Direct Box e outro no input do amp.
A passagem de som foi legal. Os caras detonam! Mark me pediu para consertar um cabo e dar uma geral nas guitarras dele. Saulo memorizou a batera e ficamos a espera da passagem de som da próxima banda.
Steve e banda demoraram um pouco, mas quando chegaram, tivemos que fazer as mudanças no palco. Saulo e o baterista André iniciaram as mudanças na bateria. Eu fiquei com o Marcel (guitarrista) e o Bruno (baixista). Para o Marcel, selecionamos o cabeçote Marshall e duas caixas restantes. Ele usou apenas um pedal Boss SuperOverdrive como booster para solos. A guitarra era uma N4 da Washburn com captadores Dimarzio e afinação meio tom abaixo.
Para o baixista Bruno, decidi utilizar o cabeçote reserva e a caixa principal. Mas não sei porque resolvi mudar de idéia ( o que foi uma decisão acertada e fez diferença depois, com relação a “ganhar tempo”). Então, apenas modifiquei a cadeia do sinal do Bruno porque ele utilizou apenas um pedal Boss Chorus. A passagem de som foi tranqüila e aproveitamos para mapear todas as regulagens sonoras (amps) e físicas (bateria, microfones e pedestais).
Terminada a passagem de som, finalizamos as coisas no palco e fizemos um lanche na base do “empurra sanduíche e batata frita goela abaixo”.

Saulo ficou tirando fotos e eu fui preparar as a garrafas de água, toalhas, e papel para o set-list. Depois voltamos eu e Saulo para checar as configurações dos amps e das guitarras e fomos relaxar com amigos que vieram mais cedo e já estavam dentro da casa.
Esse intervalo foi bem curto. Logo estávamos preparando os últimos detalhes para a apresentação de Steve & banda. Camarim, palco, backstage, camarim, palco, uma correria...
Ligamos os amps, set list no chão, garrafas de água pelo palco, toalhas, organização de ferramentas no backstage...etc...
Sobre o show, não tem muito que falar. Pedirei para vocês lerem no link relacionado porque é a perspectiva de quem assistiu o show. A nossa é diferente! Mas gostamos e curtimos muito. Steve é carismático e a banda foi hiper competente. Bruno, André e Marcel, vocês detonaram!
Antes da apresentação, Steve me deu um abraço de agradecimento. Esse tipo de coisa é que torna tudo isso muito gratificante!
Antes de terminar o show do Steve, preparação do backstage e camarim.
Findada a apresentação do Steve & banda, correria para montar as coisas para o Raven. Meia hora apenas.
Troca de amplificadores de guitarra, checagem de sinal da guitarra & baixo, troca de disposição das peças da bateria, set list no chão, águas, toalhas, improvisações, troca de potenciômetro na última hora e finalmente começa o show!
Aliás, showzaço! Vocês poderão comprovar nos vídeos e no review do link. Muito bom! Os caras são old school totais e depois Steve Grimmett voltou para tocar um som com eles!
Bom, ambos os shows tivemos que ficar alertas e invadimos o palco diversas vezes, o que vocês poderão comprovar nos vídeos e fotos. Não tinha muito jeito, palco pequeno, duas bandas somente 2 técnicos e muitas probabilidades de problemas.
Mas no final, deu tudo certo e o melhor termômetro é quando produtores, banda, artistas e até audiência, nos procuram para dizer que o trabalho foi profissional e relevante. John Gallagher me mandou uma mensagem no Facebook bem legal, e a galera da Grimmett Band (Marcel e Bruno) já nos contataram depois, também agradecendo. Valew galera!
Bom, a desmontagem é terrível. Como haveria outro evento na casa depois do show, tivemos que correr (o pior é a canseira!)...para desmontar, levar as coisas para os camarins e ajeitar tudo para que as bandas pudessem ir embora. Terminamos tudo, tiramos fotos com a galera e finalmente fomos jantar no Black Dog com amigos...depois...cama!
Imprevistos!
Só para vocês terem idéia do que pode acontecer, algumas situações que tivemos que enfrentar:
- Cabeçote reserva Marshall JCM900 estava com um canal queimado. Felizmente não foi necessário utilizá-lo.
- Não sabíamos qual era a configuração dos amps do Raven, foi tudo no chute!
- Não tínhamos o mapeamento da bateria para as duas bandas. O Saulo se baseou em fotos de show e na estatura do baterista do Raven. Já sobre as configurações do baterista André do Steve Grimmett, nem tínhamos idéia de nada.
- A caixa Ampeg 4 x 10 estava sem os pés dianteiros, tivemos que improvisar dois pés com ferramentas.
- Problemas com ruídos oriundos do afinador de rack de Mark. Tivemos que diminuir o ganho de saída da potência e adicionar ganho na mesa.
- Tive que improvisar a tampa de um dos cases como suporte dos transmissores sem fio do baixista do Raven na lateral do palco, por causa da baixa recepção de sinal.
- As guitarras de Mark Gallagher do Raven estavam totalmente desreguladas e com muitos problemas de parte elétrica.
- Troquei o jack de saída da guitarra do Mark
- Troquei o potenciômetro de volume da guitarra do Mark.
- Consertei o cabo send/return do Triaxis do Mark.
- O Direct Box do amp de baixo estava com mal contato na posição ativo da chave, tive que improvisar uma trava.
- Tivemos que improvisar um “calço” no pedal de bumbo danificado durante a apresentação do Raven.
- Tivemos que trocar o cabeçote Ampeg SVT durante o show do Raven por superaquecimento. A sorte que deixei o cabeçote reserva perto do sistema principal.
- Saulo teve que mapear os posicionamentos das duas baterias no olhômetro e no “feeling”.
- O guitarrista Marcel da banda de Steve Grimmett estava sem guitarra reserva. Deixei uma das guitarras do Mark Gallagher no backstage com afinação alterada para meio tom abaixo ( seria usada, em caso de problemas, como por exemplo: quebra de corda).
- Meu afinador Korg DT-7 pifou durante o show do Grimmett. Voltou ao normal durante o show do Raven.
- Nossas lanternas pararam de funcionar simultaneamente num dado instante do show ??? Depois voltaram a funcionar ???
- Os cabos emborrachados e sujos teimavam em embaralhar ou enrolar, tive que entrar no palco diversas vezes para desenrolá-los.
- Steve Grimmett trouxe uma pasta com as letras das músicas(era a “cola” dele), diversas vezes, tive que entrar no palco para arrumar a pasta – que estava presa no chão.
- Muita gente invadiu o palco durante os shows. Saulo segurou a onda até eu chamar um segurança e colocá-lo no palco – porque não é nossa função.
- Pedestal de microfone e respectivo microfone saíram voando do palco no Raven. Quase que tive que dar um “mosh” para recuperá-los, mas a audiência devolveu.
Algums fotos:
Eu & Mark Gallagher (Raven)


Saulo e o baterista Joe Hassel (Raven)

Banda do Steve Grimmett (André, Marcel e Bruno) e eu!
Neste link, tem o set-list e mais fotos!
Videos: Steve Grimmett & Band - Raven





6 comentários:

Rogério disse...

Caraca Henry!
Eu sabia que a vida no backstage é dura e cansativa, mas lendo essa matéria acima quase "cansei" de só ler,hehehe!
Receberam alguma remuneração?
Se sim espero que valha todo esse esforço!
Entendo um pouco de batera, pois toquei bastante tempo(tenho saudades da minha Sonor)e deu vontade de estar ali com Saulo dando uma ajuda.
Grande trabalho!!
Abraço aos dois!

mukaisabia@yahoo.com.br disse...

Nossa, que trampo, parabéns pela competência, trabalho duro msm, mas que exige capacidade e você provou que tem de sobra, Parabéns !!!

Cry Of Voodoo disse...

valeu galera, a melhor remuneração é ler os comentários de vcs...valeu mesmo!

Anônimo disse...

Legal ficou materia em Henry ,
Realmente agente salvou o Show em !!
Mais foi bem legal .. mesmo com esses probleminhas !!!
È isso ai e até o proximo em !!!

ABRAÇ
ASS: SAULO

Anônimo disse...

Se eu morasse em SP ia de aprendiz !
:D


Monika Reeve

Bruno Masquio disse...

E mesmo com tantos imprevistos "pequenos", o show rolou super bem e aposto o pessoal curtiu pra caramba. Foi uma honra poder tocar com os caras e ter essa equipe do lado.
Grande abraço!