03/08/2011

Outra Vez...


Hoje fui criticado por ser portador da carteira de músico. É uma situação irônica, porque quem desconhece o fato de existir tal registro ou documento, se surpreende com a existência do mesmo e emite opiniões do tipo: “que legal, não sabia disso. Muito importante o músico ter respaldo e vínculo com entidade de classe”. Por outro lado...quem tem conhecimento de causa sobre o fato, sabe que as coisas não são tão “legais” assim...E muito irônico, porque a polêmica a respeito da obrigatoriedade ou não da carteira para o exercício da profissão (exigida pela Ordem dos Músicos de Brasil) é algo que beira o Sci-Fi...Para explicar de maneira simples: é necessário que os músicos tenham a carteira para tocarem em espetáculos, casas noturnas, bares, shows, gravações, para ministrarem aulas particulares ou em escolas, para produzirem eventos e etc...E a entidade fiscaliza e multa os estabelecimentos, quando os músicos não possuem a tal carteira. Segunda feira, tanto a Folha de São Paulo e o portal R7 publicaram a seguintes notas:
Se eu sou a favor ou contra? E o fato de possuir a carteira? Pois é, tipo de discussão que queima mais fogueira que lenha. E como diz um amigo meu: “é uma moeda de dois gumes”
Eu não sou um músico regular com uma carreira musical atuante. Sou luthier, técnico de palco e consultor técnico de empresas do ramo musical. Como luthier e professor de luthieria – tocar faz parte do meu trabalho para testar, ajustar e construir instrumentos. Como técnico de palco, tenho que preparar o backline para o show e muitas vezes, “passar o som” para os artistas. Como consultor, testo equipamentos e ministro workshops, eventualmente tocando e demonstrando produtos. Eu tirei a carteira de músico por uma única razão: porque me foi solicitada uma vez numa renomada casa de shows de São Paulo. Eu estava trabalhando como técnico de guitarra para uma banda gringa. Passava o som do palco, nos preparativos do show e o fiscal exigiu a apresentação da carteira. Um dos motivos – foi simplesmente porque o referido descobriu que eu era brasileiro. Porque se fosse estrangeiro, não teria sido desta forma. E nem sei como os produtores do evento resolveram essa “pendenga”, mas resolvi dar um jeito para não passar por isso. Não sou “musicondríaco”, mas na semana seguinte, fui providenciar a minha carteira.
Bom, eu sou 777% contra a ausência de critérios, da maneira como a carteira é gerida. Não sou contra a emissão da “tal”, mas acho que algo de melhor poderia ser feito com relação a isso.
E não é da boca para fora. Já estive lá na entidade e conversei com várias pessoas. Algumas inclusive muito solícitas e atenciosas, outras nem tanto... E só assim...descobri que o buraco é BEM mais embaixo...
Enfim...
Não sei se a Procuradoria Geral da República, ou se o Ministério Público ou o quem quer que seja, resolva deliberar a favor (do bom senso). Mas ainda estou cético em relação a isso. Ainda acho que decisões e deliberações isoladas, serão a tônica nessa questão!
Conheço muitos músicos profissionais renomados com uma carreira marcante que não possuem a carteira. Nem fazem questão. Estão acima disso e abriram mão de se apresentar em locais que a exigem. E conheço casos escabrosos de gente sem nenhuma condição musical, possuidoras das carteiras – galera que toca de graça ou por módicas quantias. E cadê quem cuide disso? Cadê quem regule isso?
Será que poetas, pintores, escultores e surfistas, não poderiam exercer habilidades, pela ausência de uma carteirinha?
É diferente da questão do risco social. Engenheiros, médicos, profissionais ligados à saúde, advogados e algumas profissões, como um técnico de edificações, são exemplos de ocupações que requerem um vínculo a entidades ou conselhos que fiscalizem a atividade. Justamente por causa do risco social.
Ok, ok, ok e eu sei, eu sei...música ruim também pode ser considerada como um risco social...(de modo irônico ou não). Fui criticado por ser conivente com a carteirinha e de usufruí-la quando conveniente. Ou seja, eu tive meus motivos para tê-la e eu cuido das minhas prioridades. Se tiver que trabalhar em alguma produção do SESC, prefeituras, instituições estaduais, federais ou em qualquer lugar que seja – tenho a carteira e vou continuar pagando...
Quanto a discussão...penso como Dale Carnegie: "A única forma de vencer uma discussão é evitá-la". Não que "discussão" precise ser vencida por uma das partes...mas eu não quero mais saber disso...

2 comentários:

Ale Martins disse...

Henry, muito legal o post. Pois é, eu mantenho a minha em dia, e como não acredito muito que vá perder a necessidade, continuo pagando em dia também.
Nunca me pediram na hora de tocar com a minha banda, mas já rolou visitas na escola que eu dou aula.
Por via das duvidas, nunca se sabe quando vai precisar dela, melhor ter ela em mãos...
abraço

Leandro Pedroso disse...

Fala Henry, como sempre um post com alto teor de bom gosto e bom senso. Concordo plenamente com tudo que escreveu. O assunto é polêmico... no caso dessa última notícia, alguns meios falam só de forma geral, que não é mais obrigatório a carteira (entende-se Brasil todo), outros, explicam melhor e revelam que é uma sentença local apenas... de qualquer forma, as pessoas já falam que a OMB acabou, etc... mas não é assim, quem já foi na Ordem sabe que tem uma estrutura e tá lá de pé. Por via das dúvidas, mantenho em dia. Valeu e um abrax